quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O sequestro nosso de cada dia

Em Outubro de 2008, durante 100 horas, o Brasil só falou de Lindemberg Alves e Eloá Cristina Pimentel, um casal recém separado que teve sua própria dose de loucura culminada em morte.
Porém, apenas o final desse relacionamento foi atípico. A jornada percorrida por Lindemberg e Eloà não é tão incomum.
Quem nunca seqüestrou ou foi seqüestrado psicologicamente por amor? Quem nunca quis assassinar ou teve sua vida social assassinada pelo antigo amante?
Não é difícil encontrar quem seqüestra psicologicamente através de chantagens derivadas do egocentrismo, ou assassina com bases na máxima: “Não é meu (ou minha) não vai ser de mais ninguém”.
Quantos assassinos sociais andam soltos por aí?
Lembram aquela ex, ou aquele ex que faz de tudo pra atrapalhar sua vida? Manda mensagens desaforadas, com aquela baixeza típica de quem é abandonado, cheio de erros de português provenientes do nervosismo de não estar mais no controle.
Como se não fosse suficiente, o abandonado ainda espalha coisas sobre você. Informações essas que são inventadas ou alteradas pra prejudicar sua imagem. Na maioria das vezes, a primeira providencia pra iniciar essa cruzada psicológica em favor do mal é buscar aliados. Os primeiros da lista são aquelas pessoas que eram contra o relacionamento e fizeram de tudo pra ver o dois longe um do outro por ciúme ou por inveja. O discurso é o obvio:
“Você tinha razão quando me alertou sobre aquela pessoa. Não deveria ter ficado com ela nunca.”
Quem antes era antipático, intrometido e insuportável adquire agora um status que transita entre conselheiro indispensável e melhor amigo.
Até aquela pessoa que tem a postura mais admirável, mais centrada, pode ser um terrorista em potencial que quando contrariado; se mostra pronto pra detonar suas bombas vingativas. É nesse momento que alguém solta:
“Não acredito que essa pessoa era assim... Quem diria... tanta pose pra esconder essa “podridown”.”
A verdade é que todos nós temos nossos traços lindemberguianos e queremos nos vingar matando, ainda que socialmente, ou dominar seqüestrando, ainda que psicologicamente. O fato é que o canalizador necessário pra desencadear tais comportamentos parece quase sempre estar relacionado tanto à necessidade de controlar, quanto a perda desse controle.
Ainda existem, por outro lado, as pessoas que tem um prazer quase orgástico em causar desgraça pra o outro. O individuo não sabe o que fazer com a vida dele quando tudo esta bem, então ele tem que arranjar uma confusão que gere um inimigo (ainda que seja o antigo amante), que se transformará numa espécie de bode expiatório ou um álibi persecutório. Tudo isso apenas prá que ele não tenha que conviver com ele mesmo.
O mais trágico é que essa falta de aceitação consigo mesmo cresce gradativamente ao mesmo tempo em que a pessoa se torna mais nociva. É claro que durante esse processo evoluem também as hostilidades que não precisam mais ser tão declaradas, transformam-se em farpas psicologicamente sutis, tudo bem armado, bem tramado; é uma intriguinha que se faz aqui, é uma conversinha que se tem ali, uma provinha que se produz acolá e o espaço do outro começa a desaparecer até o ponto de ele não ter mais lugar pra sentar, ou com quem conversar. Mas tudo de forma educada, dependendo do nível, é tudo politicamente correto. Mas não importa se foi um soco ou uma trama cheia de finess o efeito e a intenção são os mesmos; destruir o outro.
Não obstante... Lindembergue provavelmente pensou: “Não é minha não vai ser de mais ninguém”.
Mas quantos de nós pensamos assim também?
Podemos fugir do “pitbull” que se esconde no porão da nossa alma? Por quanto tempo ainda conseguiremos mantê-lo na coleira?
Falamos sobre os assassinatos sociais provenientes do abandono.
E o que dizer do seqüestro psicológico que sofremos enquanto estamos com o outro?
Como ser humano que sou, procurei um culpado e achei um dos responsáveis por nossos seqüestros conjugais e fraternais.
ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY é um dos culpados.
Em 1943 ele escreveu o livro “O Pequeno Príncipe”. Um verdadeiro depravador de relacionamentos.
Da pagina 74, parágrafo de número 7:
“VOCÊ SE TORNA ETERNAMENTE RESPONSÁVEL POR AQUILO QUE CATIVA?”
Com essa frase, a raposa tentou fazer o Principezinho acreditar que se ela tinha sentimentos por ele, isso o obrigava a ficar próximo e assumir essa responsabilidade. Quem nunca encontrou uma “raposa” destas?
Essa cultuada frase é uma bravata, uma doença dentro de um recipiente de beleza e rotulado como verdade. Às vezes as pessoas geram as expectativas sozinhas. Nem sempre temos responsabilidades sobre o que esperam de nós.
O problema desse tipo de relacionamento é que ele exige que você faça sacrifícios constantes como se anular em favor do outro.
Todos sonhamos em amar e sermos amados, mas muitos amores e amizades podem vitimar o outro.
Lembram daquelas centenas de coisas que não podíamos fazer... Mas fizemos, que não devíamos deixar... Mas deixamos, que não podíamos gastar... Mas gastamos... Tudo por causa do seqüestro desse “amor”.
Esse tipo de amor é convenientemente arquitetado pra transferir responsabilidades para o outro.
Pior é que tem gente que só ama assim: em troca de alguma coisa; patrocínio, atenção, devoção, alguns querem em troca você, até mesmo sua alma.
Esse amor de indulgencias é camuflado e discreto no começo, temos que andar atentos pra poder discernir de longe. Ele possui uma perversidade tal que apenas alimenta o outro segundo sua necessidade de poder. Por isto tem tanto controle.
Pessoalmente enfartei dele!
Do mesmo modo que meu Querido PAI enfartou do miocárdio; de forma aguda, repentina e fulminante.
É uma doença que gera co-dependência. Você fica seqüestrado pelo outro, é obrigado a ser dele, sendo que nunca pediu para ser, muito menos imaginou que seria daquele jeito e com aquelas cobranças. E quando por algum motivo você não consegue suprir as expectativas do outro, os seus “amantes cativados” ainda te transferem a culpa sob a acusação de tê-los enganado, de ter estragado tudo.
Quem nunca teve “amigos e amores” assim?
Quem que hora lê esse texto não tem, ou conhece, uma historia dessa?
Tudo isso é meio que comum nos nossos dias.
Cansamos de contar quantas vezes as circunstancias afetam o nosso interior nos roubando a esperança. Quando olhamos para como os relacionamentos são conduzidos hoje em dia um sentimento da mais profunda solidão nos alcança.
Pra quem esta pensando que esse sistema maligno é imbatível... Não desista ainda. Este é o cenário, mas você não precisa fazer parte dele.
O desafio é poder olhar em volta e não se deixar assimilar pelo o que existe. Precisamos construir uma adversativa a esse tipo de existência. Não permita que ninguém tenha o poder de retirar de você o prazer de gostar da vida e a esperança de ser amado decentemente. O fato de não existir apreço da parte de sua alma por esse tipo de relacionamento já o credencia numa auto diferenciação essencial para não se neurotizar com esse tipo de maldade humana, nem se deixar absolver por ela.
Não permita que essa condição se prolifere. Numa época como a que vivemos não se apresse em considerar amores em amores, pois todos nós perdemos a referencia básica do que o amor o é. Permaneça só, não temos que nos unir pra ser pior.
Abra os olhos do coração. Perceba mais não se torne alienado, conheça o seu mundo. Se conheça, não se permita evadir da realidade pelos sonhos ilusórios de onipotência de ninguém. Seja extremamente econômico com o seu apreço pelos outros. Mas não se torne duro a ponto de perder a fé no ser humano. Continue querendo amar mesmo sem saber como.
Mas nunca trate ninguém com a indulgencia dos “Lindembergue’s” nem tão pouco aja com a inocência dos ignorantes. Não precisa fazer de tudo para agradar amigos e amores. Andando por novas concepções eu aprendi que basta ser você mesmo. Se não for o suficiente, fuja. Não se torne o um camaleão apaixonado porque após sugarem tudo o que você tem, te largam sem nada, até sem a própria identidade. Lembre-se que por ser apenas um, você pode apenas aquilo que um único um pode. Quem achar que pode mais do que você, que não lhe cobre, não lhe culpe, e viva sua suas ilusões de onipotência e perfeição em um hospício longe do seu quintal.
Mesmo que alguns esperneiem não lhes permitam ter de volta terreno fértil pra esgotar os recursos de sua bondade. Antes, eles tiravam de você. Hoje se permita escolher a quem quer dar.
Não sirva às neuroses esquizofrênicas de ninguém.
Volte a decidir suas prioridades. Nunca mais deixe que ameaças de amizades ou de amores alterem o curso de seu caminho ou do seu caráter.
Cada um com sua doença; Lindembergue com a dele e nós com as nossas, mas como diria Kim: “Somos todos iguais na jornada pela vida”.


Por Cléber Souza de Jesus