quarta-feira, 9 de maio de 2012
Meu pai morreu e deixou minha mãe com câncer
O cantarolar contínuo mesmo que desafinado, um sorriso permanente e sem motivo aparente, os suspiros esporádicos, a gentileza exacerbada e a distração aguda. Qualquer um que apresente tal comportamento, desde um desconhecido do outro lado do planeta, até a sua amiga de trabalho, podem ser acusados de estar apaixonados.
Os sintomas da paixão são universais. Produzem o mesmo nível de autismo e/ou genialidade nas suas vítimas. O problema da nossa época é o tempo de duração. Hoje os relacionamentos são menos profundos, as pessoas são mais descartáveis e os amores nunca foram tão passageiros.
As vitrines enfeitadas e as propagandas a toda hora, produzem uma poluição visual e sonora superestimando uma data que tem influência direta do amor. Um contraste diante da situação emocional em que a raça humana se encontra. É fácil constatar em qualquer pesquisa que o número de separações continua maior do que o de casamentos.
Em um mundo onde se preza tanto a independência e a individualidade, ninguém quer depender ou confiar sua felicidade à outra pessoa. Os relacionamentos já começam com prazo de validade.
O que aconteceu com as conversas sem palavras, os olhares cheios de significado? O que houve com aqueles pequenos detalhes que constroem a intimidade de dois? Quando foi que você ouviu uma historia de amor? Tem tempo?
Pois bem... eu tenho uma: Meu pai morreu em 2004 e deixou para minha mãe um câncer. Ok, não tem nada de romântico numa história com mortes e doenças incuráveis. Mas esse não é o ponto. Tenha paciência.
Papai morreu de repente, o miocárdio defeituoso o levou. De um susto ao vazio, assim, meu amado pai se foi, sem ao menos dar tempo de despedidas. Depois que ele partiu, mamãe nunca mais foi a mesma. Sua alma, seu corpo, seu coração, tudo ficou abalado. Ela entrou num mundo cinza de sombras e lamentos. Nunca deixou suas atividades, nunca se negou a viver, tentou da melhor forma que pôde.
Mamãe foi diagnosticada com câncer de mama pouco depois da morte de papai. Ela não se deu conta que estava morrendo por amor. A somatização de toda tragédia que a ausência significa a alcançou sem piedade.
Encontrar um amor de verdade significa assinar a sentença de existência conjunta. A natureza parece encarar os amantes como um apenas, e quando uma das partes pára, a outra fatalmente não consegue seguir adiante muito tempo.
Meus pais não eram especialistas no amor, tinham problemas como todo casal, mas existir na nossa casa me ensinou que o amor não aceita superficialidade. Amor verdadeiro é para toda vida, e quando um dos amantes parar, o corpo do outro vai se recusar a continuar.
Nesse dia dos namorados, 12 de junho, data em que meu pai faria aniversário de vida, quero usar um dos pedidos dele. Eu não quero me conformar com as limitações brutais impostas pela sociedade ou pelo ritmo frenético de nossa existência moderna. Eu quero ser maior que as circunstâncias.
Eu quero me reencantar com o simples; Quero ficar feliz e arrepiado com coisas pequenas.
Meu desejo é que possamos encontrar alguém para amar e que esse alguém nos ame de volta e que esse amor seja por toda vida.
Feliz dia dos namorados.
Sáb, 11 de Junho de 2011 03:00
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